Imagine se, de comum acordo, todos os habitantes da Terra falassem um só idioma. Você poderia tomar um avião no Brasil, descer no Japão e se entender com todo mundo. Para alguns estudiosos, esse seria o fim de muitos desentendimentos. A Bíblia, por exemplo, diz que a harmonia entre os povos acabou na Torre de Babel, quando, por um castigo divino, pessoas que antes falavam a mesma língua passaram a ter diferentes idiomas. Desde então, ninguém mais se entendeu, diz o texto.
Mas uma língua unificada teria vida breve. Em pouco tempo, cada grupo selecionaria os termos adequados ao seu ambiente e à sua cultura, diferenciando novamente as linguagens. Enquanto os idiomas têm entre 2 000 e 20 000 palavras, uma língua mundial precisaria de mais de 25 000 termos, para absorver, por exemplo, as 40 palavras que os esquimós dão para a cor branca. No Saara, essas palavras seriam abandonadas em breve. “O latim era uma língua unificada, mas dele saíram 10 ou 12 línguas latinas”, diz o professor de Filologia Românica da USP, Bruno Fregni Bassetto. É o que explica as diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal.
Já houve tentativas, fracassadas, de criar uma língua universal. Filósofos como Voltaire, Montesquieu e Descartes foram alguns dos que tentaram. Uns achavam que o idioma único deveria ser totalmente novo. Outros, que ele deveria ser formado de palavras já existentes, combinadas. Mas em um ponto eles concordavam: não é possível impor a todos uma língua já existente. O esperanto, criado em 1887 pelo polonês Lázaro Zamenhof e hoje adotado por 3 milhões de pessoas, foi o mais próximo que se chegou desse sonho. Mas mesmo seus adeptos, espalhados por mais de cem países, o consideram uma segunda língua, que se deve aprender sem perder o idioma natal.
A difusão dessa língua mundial seria delicada. E, com certeza, não haveria mistura com os idiomas locais. Onde houvesse resistência, a linguagem original simplesmente predominaria. Trata-se de uma verdade histórica: as línguas nunca se fundem – uma sempre predomina e a outra desaparece. Foi o que houve na Gália, terra de Asterix e Obelix, onde viviam os celtas, com sua própria língua. Quando os romanos conquistaram a região, impuseram o latim, que foi adotado. Com mudanças de pronúncia e enxertos de palavras, mas ainda latim.
Há quem defenda a tese de que já se falou um idioma universal, quando a linguagem foi inventada pela humanidade. Mas essa é uma grande polêmica. Alguns pesquisadores acham que a raça humana surgiu na África e, dali, se espalhou pelo resto dos continentes. Outros supõem que povos diferentes surgiram em várias regiões, cada um com sua língua. No primeiro caso, as línguas teriam uma origem comum. No segundo, não.
“Tudo o que sabemos sobre a linguagem parte do que a língua é hoje. O resto é especulação”, diz Carlos Alberto Faraco, professor de Lingüística da Universidade Federal do Paraná. De certo, sabe-se que, no passado, houve um povo que falava uma só língua, o indo-europeu, do norte da Índia à Europa, com poucas exceções, como o país Basco e a Finlândia. Esse idioma deu origem a quase todas as línguas ocidentais e a algumas orientais. Antes disso, a controvérsia é tão grande que, no final do século XIX, os lingüistas proibiram que se discutisse o tema.
Fonte: super.abril.com.br/
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