Há pouco mais de cem anos, dois grupos de exploradores partiram em uma expedição com um objetivo comum: serem os primeiros a alcançar o Pólo Sul na história da humanidade. Roald Amundsen, da Noruega, liderou o grupo que chegou primeiro, a 14 de dezembro de 1911, abrindo os olhos da comunidade científica para os mistérios da Antártida.
Muitos desses segredos, no entanto, continuam ocultos mesmo depois de um século de pesquisas. O continente gelado influencia o resto do mundo muito mais do que pensávamos, motivo pelo qual os cientistas encaram a compreensão da Antártida como um grande desafio.
O que está oculto no gelo?
Acima da superfície da Antártida, que ocupa uma área superior a 14 milhões de quilômetros quadrados (equivalente a mais do que um Brasil e meio), dorme uma camada de gelo que chega a ter 4 quilômetros (km) de espessura em alguns pontos. Isso faz com que o continente armazene 70% da água não salgada do planeta.
A profundidade da camada foi descoberta, ao longo do tempo, por meios tanto rudimentares (explosões com dinamite para verificar a altura do gelo) quanto modernos (sistemas de radares modernos). Já se descobriu sob a superfície de gelo, por exemplo, um complexo conjunto de lagos que influencia na direção em que se movimentam as calotas polares.
O que existe abaixo da camada superficial?
Abaixo desta espessa camada, a Antártida esconde um segredo fantástico: a Cordilheira de Gamburtsev. Exploradores soviéticos descobriram, nos anos 50, uma cadeia de montanhas comparável ao tamanho dos Alpes, na Europa, mas soterrada por gelo.
Ainda se discute a idade dessa cordilheira. Até pouco tempo, estimava-se que teria quase um bilhão de anos, o que é impressionante do ponto de vista geológico: quase nenhuma cadeia de montanhas dura tanto tempo assim. Mas pesquisas recentes apontam que Gamburtsev seria mais jovem, algo entre 100 e 200 milhões de anos. De qualquer maneira, ainda há muito o que se descobrir sobre a Cordilheira.
Lagos subglaciais
Quando o calor proveniente do núcleo da Terra derrete a parte mais baixa da camada de gelo da Antártida, criam-se fenômenos naturais interessantes: grandes lagos subglaciais. Este ecossistema é quase totalmente desconhecido da humanidade, e cientistas estimam que tais lagos sejam abrigo de formas de vida nunca vistas antes.
Por esse motivo, duas estações de pesquisa (uma russa e outra britânica), instaladas no meio do continente, preparam projetos para coletar amostras da água desses lagos (Lagos Vostok e Ellsworth, respectivamente), o que deve acontecer já no ano que vem.
Formas de vida no gelo
O gelo da Antártida pode ser berço, conforme estimam os pesquisadores, de uma ampla variedade de microorganismos. Já se sabe que existem bactérias na superfície do continente (embora em quantidades reduzidas; cerca de 300 células em um milímetro de gelo, pouco quando comparadas às cem mil na água do mar), mas elas estão alojadas em pequenos depósitos de água que oferecem nutrientes.
Amostras de gelo com 420 mil anos de idade, tiradas de profundidades superiores a 2 km, foram analisadas em laboratório por cientistas americanos. Descobriu-se que ali havia bactérias ainda vivas, o que impressionou os pesquisadores.
Mas será que existem realmente ecossistemas complexos vivendo nessa camada? Ou essas bactérias isoladas foram apenas conservadas pela temperatura baixa? É uma questão que permanece sem resposta.
O mar em volta do continente
A vida marinha que existe no oceano que circunda a Antártida é totalmente diferente de qualquer outro mar do planeta. Alguns animais que habitam essas águas (tais como certas espécies de aranha-do-mar, do tamanho de um prato de cozinha) são encontrados apenas por lá, enquanto animais comuns em todos os outros oceanos não marcam presença nos mares antárticos.
Para sobreviver em águas de temperaturas tão baixas, o corpo de alguns animais produz uma espécie de substância anticongelante. E esta é apenas uma entre várias adaptações nos organismos existentes nestes mares, a maioria dos quais os cientistas ainda não conhecem muito bem.
Até que ponto o gelo está derretendo?
Não é mais novidade a quantidade de discussões entre especialistas sobre o volume das calotas polares da Antártida, e se elas estão de fato diminuindo. Essa questão tem recebido atenção especial há mais de vinte anos.
Pesquisadores têm entrado em comum acordo quanto a um ponto: o derretimento do gelo na Antártida afeta realmente o nível dos oceanos pelo planeta. Um cientista americano, Robert Bindschadler, explica que boa parte da base da superfície de gelo fica abaixo do nível do mar, ou seja, nem tudo fica em “terra firme”. Isso torna as calotas polares vulneráveis, segundo ele.
A interação entre a superfície de gelo e o oceano que o circunda tem sido muito estudada pelos especialistas, que consideram muitos fatores perigosos. O aumento do nível do mar é consequência direta do enfraquecimento das geleiras, que depositam quantidades enormes de água no mar. Se todo o gelo da porção ocidental da Antártida derretesse, cientistas estimam que o nível do mar da Terra subiria em cerca de 5 metros.
Fonte: Hypescience, LiveScience
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